Lágrimas

Ela não costumava chorar. Sempre fora forte. Controlada. Equilibrada. Alguns consideravam-na até mesmo fria, insensível. Talvez ela fosse assim mesmo.

Porém, todos têm um dia atípico. Um dia que parece estar tudo invertido. Ela estava em um dia assim.

Acordara cedo, mas não conseguira fazer nada a manhã toda. Estava dispersa. O bom senso mandava-a trabalhar nas coisas que estavam por fazer, mas o desejo a convidava a viajar, a sonhar de olhos abertos. Lembrava de seu último encontro com ele. A próximidade de seus corpos, os olhos dele nos dela, o sorriso espontâneo, cativante, que a fazia sorrir também. Ela realmente amava-o. Lembrava da boca dele, tão próxima da dela, tão convidativa, pedindo para ser beijada... Mas, ela não tomaria esta iniciativa. Eram apenas amigos...

Porque justo ele? Porque amava tanto alguém que nunca a amaria à altura? Alguém que nunca seria a pessoa que ela queria que ele fosse?

De repente, toca o telefone. Sim, era ele. Falando novamente da atual namorada e de tudo que faria naquele fim de semana com ela.

Enquanto escutava, o peito apertava, a cabeça pensava mil coisas. Inventou algo, desligou. E chorou. Chorou como há muito não chorava. Chorou. Mas, não eram lágrimas que escorriam. Era sentimento. Chorou todo amor que sentia por ele. Chorou toda a paixão, todo o desejo. Chorou também todos os sonhos românticos. Chorou as coisas que gostaria de fazer com ele, os passeios, as viagens, os fins de semana. Chorou todo o carinho e cuidado que tinha para oferecer.

Chorou. Durante muito tempo se deixou ficar ali, entregue à tudo aquilo que vinha de dentro e saia dela em forma de lágrimas, mas que não eram lágrimas. Era o sentimento que estava indo embora, escapando através de seus olhos. Chorou até sair tudo. Até ficar vazia. Chorou até deixar de amá-lo...

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