Vazio

"Num instante
Você vira sapo
Bobeou na crença
Príncipe volta
Ao seu posto
De lenda..."
(Música "Lenda" - Céu)

- Então é assim que uma longa história se acaba? Anna perguntava-se incessantemente. Era difícil de acreditar...

Era difícil de acreditar que alguém que fora tão importante para ela, durante tanto tempo, hoje já não significava mais nada.

Há dias Anna percebia algo diferente em si mesma. Uma calma vazia, uma sensação de que perdera algo, de que perdera algo que, na verdade, nem queria mais, mas que era seu, por isso não queria perder. Queria ela mesma descartar... E hoje ela finalmente percebera o que estava deixando-a vazia: a ausência de seus pensamentos - antes quase obsessivos - em alguém que nem reparava que ela existia.

Anna vivera uma paixão "platônica" por alguém durante muito tempo. E, durante este "muito tempo", sua mente era habitada pelo ser desejado. Seus pensamentos insistiam em vagar sempre de encontro a ele; tudo o que via, ouvia, vivia lembrava-a daquela pessoa tão querida, tão amada, tão esperada. Mesmo nos últimos tempos, quando o seu sentimento já havia enfraquecido, esta pessoa ainda fazia parte de sua vida.

Mas algo mudara. Anna perguntava-se há quantos dias não pensava nele, não desejava vê-lo, ouví-lo. Ela não sabia. A única coisa que sabia é que tudo foi acontecendo lentamente. Nas últimas vezes que se viram ou se falaram ela já havia percebido que algo mudara dentro de si. Ele já não despertava mais os mesmos efeitos nela.

Mas ela não esperava que seu sentimento desaparecesse assim. Anna sabia que um dia iria esquecê-lo, mas a sensação que tinha é que - depois de anos convivendo com aquele sentimento - um dia acordara e notara que não sentia mais nada.

Ao mesmo tempo que Anna sentia-se alíviada - seria este o fim da angústia de querer algo que não podia ter? -, sentia-se também roubada, como se alguém tivesse colocado a mão dentro dela e arrancado algo que lhe era precioso, deixando o espaço - antes ocupado por aquela pessoa - totalmente vazio.

Então seria assim a partir de agora? Tudo que restava era um espaço vazio, pronto para ser ocupado por outro? Cadê tudo aquilo que antes via nele? Onde estava o encanto, a magia, o mistério, a vertigem que a envolvia? Sumiu?

Anna sentia como se tivesse passado um furacão em sua vida. Um furacão que tirou tudo do lugar. E, em seguida, passou. Agora era reconstruir tudo, recomeçar.

Anna ainda não conseguia saber se este "esquecimento" era definitivo ou se o sentimento ainda voltaria. E não sabia também definir o que era pior: a angústia que vinha acompanhada de um amor intenso, uma vontade de cuidar, de proteger, de fazer alguém especial feliz; a angústia que, ao mesmo tempo, queimava e confortava, preenchia, tirava seus pés do chão ou esta calma vazia, morna, sem dor mas também sem graça que ela sentia agora...

Estas dúvidas que rodeavam-na, Anna sabia, somente o tempo poderia lhe responder...

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