Saudade

Bia entrou em casa, após um longo e cansativo dia de trabalho. Parecia que tudo que poderia dar errado naquele dia, havia dado errado. Mas, o que mais tinha estressado Bia durante todo aquele dia foi a lembrança daquele rosto, o rosto que ela não via há quase cinco anos, o rosto que há meses ela nem lembrava que um dia existira.

Resolveu tomar um banho. Talvez a água pudesse, ao escorrer, levar embora aquela lembrança tão nítida. Era como se o dono daquele rosto tivesse passado este dia todo ao lado dela. Era só fechar os olhos para vê-lo ao seu lado. Via seus olhos, seu sorriso, todos os seus traços, como se ele estivesse ali, como se pudesse tocá-lo...

Terminou o banho. A pressão da água não fora forte o suficiente para levar aquela presença embora.

Bia foi até a cozinha. Preparou um café. Depois, pegou se diário e sentou-se no sofá. Precisava escrever para organizar suas idéias. Se lembrou de uma música que gostava que dizia "Tempo, tempo mano velho (...) tempo seja legal". O tempo não havia sido legal com ela. Mesmo passando tão rápido, os cinco anos que se passaram não levaram todo o sentimento que sentira. Quando ela achava que não havia mais nada, que aquela história havia terminado, se pegou pensando nele novamente, descobriu que o sentimento ainda estava todo ali, agora misturado com uma saudade profunda...

Agradeceu a si mesma por ter apagado os números de telefone dele. Claro, poderia buscá-lo pela internet, ainda se lembrava dos e-mails deles... Mas, valeria a pena? Depois de tanto esforço para esquecê-lo, porque trazê-lo de volta para sua vida? Não, não faria isso. Aguentaria o peso daquela saudade, até ela passar, até a sua vida voltar ao normal, até aquele rosto voltar a ser parte do passado...

Palavras

Muitas idéias na cabeça. Muitos sentimentos e sensações. Muitas coisas querendo sair, mas, cadê as palavras?

Sinto-as, vejo-as, quase as toco, mas não consigo colocá-las no papel nem digitá-las... São como fumaça que se dispersa quando tento tocá-las.

Se eu pudesse te dizer tudo o que penso... Poder, até posso. Ninguém me proibe... Mas, as palavras não querem sair. Como se elas estivessem trancadas dentro de mim e fossem impedidas de vir para fora... E mesmo que elas pudessem sair, você me ouviria? E à que preço? Não quero o seu sermão. Não quero o seu julgamento, suas opiniões. Já não me importa o que você acha... Não quero que finja que se importar...

Me sinto cansada. Me sinto frágil, como se eu pudesse quebrar a qualquer momento.

Palavras... quando penso em você, a única palavra que vem é: silêncio...

Lágrimas

Ela não costumava chorar. Sempre fora forte. Controlada. Equilibrada. Alguns consideravam-na até mesmo fria, insensível. Talvez ela fosse assim mesmo.

Porém, todos têm um dia atípico. Um dia que parece estar tudo invertido. Ela estava em um dia assim.

Acordara cedo, mas não conseguira fazer nada a manhã toda. Estava dispersa. O bom senso mandava-a trabalhar nas coisas que estavam por fazer, mas o desejo a convidava a viajar, a sonhar de olhos abertos. Lembrava de seu último encontro com ele. A próximidade de seus corpos, os olhos dele nos dela, o sorriso espontâneo, cativante, que a fazia sorrir também. Ela realmente amava-o. Lembrava da boca dele, tão próxima da dela, tão convidativa, pedindo para ser beijada... Mas, ela não tomaria esta iniciativa. Eram apenas amigos...

Porque justo ele? Porque amava tanto alguém que nunca a amaria à altura? Alguém que nunca seria a pessoa que ela queria que ele fosse?

De repente, toca o telefone. Sim, era ele. Falando novamente da atual namorada e de tudo que faria naquele fim de semana com ela.

Enquanto escutava, o peito apertava, a cabeça pensava mil coisas. Inventou algo, desligou. E chorou. Chorou como há muito não chorava. Chorou. Mas, não eram lágrimas que escorriam. Era sentimento. Chorou todo amor que sentia por ele. Chorou toda a paixão, todo o desejo. Chorou também todos os sonhos românticos. Chorou as coisas que gostaria de fazer com ele, os passeios, as viagens, os fins de semana. Chorou todo o carinho e cuidado que tinha para oferecer.

Chorou. Durante muito tempo se deixou ficar ali, entregue à tudo aquilo que vinha de dentro e saia dela em forma de lágrimas, mas que não eram lágrimas. Era o sentimento que estava indo embora, escapando através de seus olhos. Chorou até sair tudo. Até ficar vazia. Chorou até deixar de amá-lo...

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