Nós

"Me responda, por favor, para onde vai o amor quando o amor acaba?"
Chico Buarque


No começo eu era eu.
Ele era ele.
Nos encontramos.
Nos tornamos nós.
Dividimos sentimentos, pensamentos, planos para o futuro; sonhamos acordados, idealizando realizações, casa, família...
Dividimos espaço físico, tempo, anos, vidas...
Eramos nós.
Algo desandou, a vida nos empurrou para lados diferentes, caminhos diferentes.
O "Nós" voltou a ser "eu", voltou a ser "ele".
O castelo de sonhos projetados no ar, no futuro, desmoronou no presente, derrubando tudo o que foi construído no passado.
Como limpar a bagunça, como lidar com as ruínas? Como remover o entulho para deixar o terreno limpo para ser construído algo novamente?
Onde jogar as ilusões, os sentimentos, as frustrações, os hábitos rotineiros da vida a dois?
Onde aprender a ser somente eu novamente?
Dizem que o tempo mostra, o tempo leva, o tempo cura as feridas, o tempo põe tudo no lugar. Mas quanto tempo leva para o tempo fazer tudo isso?

** este texto foi escrito em 16/06/2010, mas publiquei-o apenas agora.

Tarde demais


"E não adianta nem me procurar
Em outros timbres e outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu"
(Pitty)

Ele não podia acreditar no que acabara de ouvir. Não aceitava o ocorrido. Como ela pôde fazer isso? E onde estava ele que não pôde impedí-la?

Quando o término do relacionamento deles mostrou-se algo inevitável, sofrera muito. Quando tentaram voltar, se manteve distante, com medo de sofrer novamente. Mais uma vez o relacionamento acabara.

Ele passou a viver no futuro. Projetou um futuro próspero e feliz, onde os dois, renovados, mais fortes, bonitos - como duas fenix renascidas - mais maduros emocionalmente, mais estabilizados financeiramente, retomariam a relação e seriam felizes para todo o sempre. Porém, o ato cometido por ela tirara-lhe toda a esperança.

Agora sabia que o futuro idealizado nunca seria concretizado. Pelo menos não com ela.

Acontecera o que ele tanto temia. Ela se entregará ao lado sombrio, a depressão e suas ideias fixas de colocar fim à tudo. Estava tudo acabado.

Ele se culpava por não ter lutado por ela, por não ter estado presente. Não tivera pressa em buscar o que queria, porque achara que sempre estaria ali, ao alcance de sua mão.

Ficara olhando tanto para o amanhã, que deixara o hoje e a pessoa que mais lhe importava escapar entre seus dedos.

Nada era capaz de amenizar a sua dor e sua culpa. Se culpava por não ter estado mais perto, por não ter visto que nos últimos meses ela pedia por socorro. Um pedido mudo, implicito em reclamações de estresse, de cansaço de tudo, de falta de ânimo para continuar sua jornada...

Sabia que a dor não a traria de volta, mas sentia seu mundo desmoronar. Somente agora via, com toda clareza, o quão grande era o sentimento que os unia.

Mas agora era tarde demais...

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